O desabafo de um adeus...



Parto assim, com o natural contra-gosto do sentimento, mas passei a estranho nestas terras. Perdão à minha devota tripulação, bem sei que nem todos partilham ou aceitam esta decisão; resignados já estavam de nunca mais voltar a casa!!!

É altura de libertar as amarras que me prendem a este ancoradouro de tristeza, nesta terra de incompreensão e egoísmo, onde pernoitei por tempo demais. Foste o meu novo mundo, o recanto indígena que aprendi a conquistar com as melhores oferendas, e no qual me perdi de amores ingénuos… espero que saibas o quão intensamente cada pedaço em mim ficou preso, como os inúmeros limos verde-esmeraldas que regressam comigo, enraizados neste casco já desabituado a lides de alto-mar.

Sim, eu esperava que também construísses heroicamente, lado a lado neste meu último fôlego, um bastião de vigia e esperança; mas foi apenas necessário que uma névoa cobrisse os campos para eu me sentir novamente sozinho.
Talvez tenha exigido de menos de ti, talvez tenha ido mais fundo do que as forças que me acalentavam, talvez tenha permitido demais…

Confesso que esperei e até mesmo protelei a partida contra todo o instinto, como se esperasse que o sol quente nos cobrisse de novo… Com o seu calor a eliminar o torpor emocional, a inércia que nos acompanha como uma lenta e acabada velha conselheira, deixando-nos assim… dormentes de sentimentos, de vida!

Chega de esperar, pois há medida que o tempo passa no meu rosto, traceja impunemente os contornos da tristeza e do abandono. Sou também essa tela homem, onde tantas e demais vezes fizeste borrar tintas com “água d’olhos”…

Ficam em terra os momentos, os risos e a réstia da revolta, essa última não a quero mais! Mansamente desejo cobrir-me com o manto quente da paz e deixar-me vogar para águas mais doces e climas bem mais amenos. O amor, esse levo-o comigo para onde quer que vá…

Não tenhas dúvidas orgulhoso abrigo à beira mar, porto dos incautos e dos marinheiros de má rês; é pela escassez que parto, pela falta de me sentir no teu olhar.
És ainda o cheiro da terra que vive e pulsa em mim, enquanto a dor da fustigação das ondas permanecer…

Julho 2006

Comentários

Anónimo disse…
Muita sensibilidade caro yôgin, alguém deve ter-te magoado muito... Gostei muito de ler estas linhas, escreves muito bem!
Boa sorte

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