Também de Inverno se ama… o mar!!!
mas agora parece cair em desamor inconsciente.
os gritos dos infantes dão lugar a subtis sussurros,
é o descanso do verão, dos corpos, da volúpia, da paixão,
pois o sol inebriante estende alegria a todos,
e as águas, a areia, oferecem brinquedos e gozos.
Agora, só as vozes do mar permanecem inalteradas,
naquele bulício intrépido, próprio da sua intensidade,
como se o prenuncio de náufragos inundasse,
quem se encontre a ouvir perto dos seus domínios,
Ninguém o visita quando o sol se deita sobre as águas,
receosos talvez do passeio rasgado de gélido vento,
nem amantes se banham nas suas sombras sobe as estrelas,
nem gaivotas pernoitam nos torreões de rocha e algas,
Nas ondas que continuamente se desmoronam e permanecem,
quem o visita soluça algumas amarguras e anseios,
desenha caprichos, constrói inércias, enfrenta receios,
percorrendo o infinito crepuscular com o olhar.
Ao olha-lo assim, eternizo este ébrio instante,
na profundidade do nosso comum desassossegado âmago,
neste silêncio eterno dos pensamentos,
dos segredos vis tão bem guardados,
eu me entrego à cura de suas águas e unguentos.
Como errante cavaleiro destes e outros luares,
rendo-lhe a fidelidade sentando-me a seus pés,
aquecendo o coração ausente de batel,
ausente de tudo, excepto deste subtil alento de mel.
Este porto de mar na Ericeira toca-me intimíssimo,
a sua presença ondulada, pungente, poderosa,
abre-me o corpo a receber consciência,
com o incessante vento a mediar os meus cabelos,
o maravilhoso gozo dos odoríferos aromas,
e a dormência desta quietude salobra que me cai nos lábios.
A lua, esse mistério feminino, é a luz no revolver das águas,
com seus cintilantes fios brancos a pender do firmamento,
tecendo em todos nós tramas de prata sob a calada,
rejuvenescendo-nos como o carinho meigo de uma amada.
É assim que ela nos adoça de imensa bravura,
transforma-nos profundo e mobiliza-nos para o mundo,
faz o mar parecer pequeno, elevando-me feliz e mudo...
Janeiro 2007
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