Contente está quem assim se sente em si mesmo...

A dor é uma fenda que envolve o entendimento
E o coração, aberto ao sol, reside como fruto no seu interior.

Mantenham o vosso coração maravilhado perante os milagres quotidianos da vida, pois todas as alegrias podem ser escolhidas por nós.

Uma tristeza é uma alegria mascarada, pois é dessa mesma cisterna que se elevam os vossos risos e que tantas vezes também fica repleta com as vossas lágrimas.

A arte do contentamento é saber que quanto maior a profundidade das vossas tristezas, tanto maior é a alegria que podeis conter.

Quando estais alegres, sondai profundamente o vosso coração e verificareis que o que vos dá a alegria também é o que vos dá a tristeza.
Quando sentirdes descontentamento, olhai de novo para dentro de vós e vereis que, na realidade, chorais por aquilo que foi a vossa alegria.

Juntos eles surgem e, quando o descontentamento se senta sozinho convosco à mesa, recordai-vos que o seu irmão está a dormir no vosso coração.

Quando, para pesar o seu ouro e a sua prata, o ourives vos erguer, nem a vossa tristeza nem a vossa alegria deverão subir ou descer.

O conhecimento abre-se a si próprio, como se abre um lótus de inúmeras pétalas.
E a beleza do contentamento ecoa nos vossos silêncios, qual luz tímida que palpita no medo da escuridão.

O contentamento não floresce da imagem que gostaríeis de ver, nem do cântico que gostaríeis de de ouvir, mas de uma imagem que vedes, mesmo de olhos cegos ou fechados, e um cântico que ouvis, mesmo de ouvidos tapados.

Vós sois a vida e sois véu.
O contentamento é a eternidade que se contempla a um espelho.
Mas vós sois eternidade e sois espelho.

Texto de teatro sobre santôcha (contentamento),
integrado na peça "yamas e niyamas" (código de ética do yôgin),
representado por mim, o sábio cego... ;)

Comentários

Sonia Ferreira disse…
Parabéns pelo pin vermelho :)

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